sábado, 21 de março de 2009

"FORAGIDOS"


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VIVA O CINEMA NACIONAL!!
VIVA A BOA MÚSICA BRASILEIRA!!
Viva tudo que nos faz sentir HUMANOS, nesse mundo muito louco!!!



Esse texto escrevi em 2004...tempos de militância...Saudade!!

Identidades em Construção

“A grandeza do homem é que é uma ponte e não um fim. (...)
O homem só existe para ser ultrapassado.”
NIETZSCHE, Assim falava Zaratustra


Temos uma população invisível se movendo nos subterrâneos sociais como um rio de larvas ardentes sem rumo, perdendo sua forma a cada curva e se refazendo ou se dividindo sem uma direção definida. Difícil é a caminhada em busca da cidadania; tortuoso é o caminho de volta ao convívio social; dolorosa é a desterritorialização do sujeito enquanto preso.

O trabalho de recondução e reeducação do homem preso não é um trabalho inócuo; é uma tarefa Dantesca oferecer possibilidades para o homem se reconstruir, mas a resposta final é libertadora.

Vivem sinuosamente buscando rumos e identidades, tentando como seres errantes se recompor a cada momento, sinalizando de forma constante que são seres possíveis.

Essa população invisível, que é o preso e a sua família, seres destituídos de identidade social positiva, vive à margem das grandes certezas, são vistos como refugo; quando são percebidos, mesmo invisíveis, no contexto social, vivem nas fronteiras da casualidade, da razão e do tempo, sujeitos de uma história sem final definido, em que o direito de volta à convivência social soa como uma ode ao mal.

São seres em busca de suas verdades, exorcizando os seus medos, refazendo-se todo dia, como fênix, para não se pulverizarem diante da não-aceitação dos seus semelhantes.

Somos todos seres duais, bons e maus, alegres e tristes, fortes e fracos, possíveis e impossíveis, carregamos em nós todos os males e todas as glórias.

O sistema carcerário pode ser um local de resgate interior, de encontros possíveis consigo, de descobertas de potencialidades, de reflexões profundas, de escolhas diferenciadas, de opções retilíneas, de novas possibilidades.

É necessário perceber essa população, que, a seu modo, pede socorro, pede urgência em se tornar possível; é necessário exercitar a tolerância e a percepção do bem em meio ao caos, para que possamos construir uma interface com o que não conhecemos, para que possamos avançar como seres solares, iluminados pela luz do reconhecimento das nossas fraquezas, das nossas negações, dos nossos medos, fazendo-nos pequenos, para que possamos renascer grandes.

Nós, familiares e presos, tanto quanto quaisquer brasileiros, raízes matriciais deste país, queremos contribuir para a construção de uma nova história.

Nômades, desenraizados e desterritorializados, buscamos, contra a correnteza, alcançar novas possibilidades sociais. Queremos ser desmistificados, descodificados, revelar-nos, não queremos nos cristalizar como seres excluídos e marginalizados pelo sistema, queremos sensibilizar os incrédulos, queremos firmar parcerias e intersecções positivas, intercambiar conhecimentos.

Todos, presos e suas famílias, fazem parte do contexto histórico desta terra; todos contribuem, de sua forma, para construir uma identidade histórica e, por isso, precisam de ajuda para ser inteiros.

Nós, familiares e presos, vivemos andando de leve em areia movediça, buscando a cada passo a tranqüilidade devida para não afundarmos, para que não nos percamos de vez do caminho que nos reconduzirá ao respeito social.

Precisamos de ajuda, precisamos da não negação, precisamos de apoio, precisamos que a sociedade nos perceba como seres possíveis, que perceba que somos todos nós, mesmo sem querer, parte da mesma história.

***

Continuo dando voltas para dar tempo as idéias, para que elas se rearrumem e me permitam continuar contando a história de um amor improvável.

NAMASTÊ!

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