terça-feira, 28 de abril de 2009

"FORAGIDOS"


Flores, cores, sons...
Carly Simon, bons tempos, boas memórias...
E continuo seguindo tentando colá-las...

Mais um dia de sol...
E tudo está ainda para acontecer...
A felicidade plena, real ainda está por vir...
Tem sido assim há muito tempo, uma vida adiada, protelada.
Nunca antes tinha percebido a densidade do tempo, o seu peso, a pressão do vácuo do nada que é a espera, a opacidade dos dias que passam pela janela como um filme do qual somos apenas espectadores. E fico tentando enxertá-lo com coisas positivas, agradáveis, para que as vibrações sejam de harmonia.
Leio, leio, leio muito, cozinho e tenho aprendido coisas deliciosas; quase não saio, nunca soube “chutar lata”, andar sem rumo, andar por andar, sempre saí com destino certo, sempre tive uma direção, e ainda não aprendi só olhar o horizonte e ir, então sento e leio e com isso ando, corro, pulo, viajo, nas folhas impressas que tanto amo. Mas a Vida tem me chamado par andar com ela, me divertir ao seu lado; tem me sussurrado que não devo levá-la tão a sério, que é multifacetada e colorida, e às vezes um tanto quanto “purpurinada”, e que não devo olhá-la só pela lente do preto e branco; ela fala baixinho para eu ter esperança, para cofiar nela e no seu amigo Tempo, diz que apesar de eu vê-lo opaco e denso ele é belo e sábio; ela me acena com a possibilidade de confraternizar com os amigos, de dividir carinho, de pedir perdão.
Fico pensando como outras mulheres como eu estão reagindo agora, como encaram a vida enquanto estão no olho do furacão, como se sentem enquanto a vida passa, enquanto observam o tempo.
Será que reagem de forma menos tensa, será que conseguem viver com alguma leveza?
Quantas somos?
Quantas vivem assim esperando que as pessoas que estão em nossa volta perceba a nossa invisibilidade, que nos conceda uma chance de fazer diferente, de fazer a diferença.
Sei que fiz a diferença na vida do homem que escolhi para envelhecer, sei que trouxe esperança, alegria e principalmente amor, esse sentimento milagroso que nos tem conduzido vida afora e sei também que muitas outras mulheres desempenham esse papel na vida dos seus companheiros.
Sei que o ajudei a compreender o seu lugar na família, na vida e na sociedade, sei que ofereci meu ombro, meu colo, minha amizade, minha solidariedade, minha lealdade, para que ele pudesse se perceber possível, viável, merecedor da vida.
Nem todas as mulheres torcem para que seus maridos se especializem na arte da 'gatunagem', muitas estão sim exercendo o papel de ‘resgatadoras’, as duras penas, na maioria das vezes isoladas, torcendo para que a vida lhes dê uma chance e tudo volte ao normal.
De onde estou vejo o céu, limpo, claro, simplesmente azul, há flores na minha janela, coloridas, e dançam ao sabor do vento outonal...
Da minha janela vejo mulheres trabalhando, concentradas sobre máquinas de costura e me pergunto; será que alguma delas, depois de uma semana estafante de trabalho, terá que ficar nua em uma sala infecta de algum presídio, abaixar três vezes e soprar a mão fechada para que uma outra mulher veja se cai alguma coisa da sua vagina?
É meus amigos, amar o ‘certinho’, é fácil, difícil é entrar na vida de um homem infrator e fazê-lo perceber o quanto ele é importante para você e para ele mesmo, e o quanto é possível construir mesmo em base muitas vezes instável, uma vida digna.
Me sinto vitoriosa por tê-lo, por sabê-lo meu parceiro, pai dos meus filhos, meu amigo, meu companheiro e no final das contas, apesar de tudo, sou feliz!
O amor continua nos conduzindo vida afora.

Namastê!

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