segunda-feira, 17 de março de 2008

FORAGIDOS

(Cais da Ribeira-Salvador/BA)

17/03/09
Olá amigos; mais um dia no planeta terra e nada de muito diferente sob o sol.
De novo só a liberdade do mega corruptor Law Kim Chong, e eu me pergunto:
- Será que algo no mundo tem algum sentido?
E enquanto a nossa liberdade não vem...



Capítulo II

Vejo-o; separa o que acha importante; é bom vê-lo sorrir!
Ele olha pra mim com carinho, e sorrir com olhos, como menino, um desvelo que me faz sentir amada, ter utilidade, uma real importância; aquela que possui a capacidade de mudar, de interferir, de criar novas formas e rumos, sempre tive um compromisso íntimo com a felicidade e principalmente com a felicidade do outro. E eu; estou feliz?
Por estar com ele sim, pela situação não; para mim tudo é dual!
Amor e Lealdade; tanto poderia ser um título de novela, como uma tese sociológica, uma análise de percurso, um diagnóstico de sentimentos. E quem se atreve a diagnosticar os próprios sentimentos; temos um total horror da vulnerabilidade, nos damos chances quando nos descrevemos, mesmo quando não percebemos, tentamos nos perdoar.
Escrever tem sido uma forma de ser leal comigo mesma.
Enquanto escrevo, ele separa blocos de anotações que se espalham pelo quarto, material arquivado há mais de uma década, sentimentos intensos de medo, raiva, revolta, amor, justiça, alegria, ternura, que querem se desprender das páginas grafadas a caneta e aventurar-se no mundo informático, para ficar com formato, corpo e ganhar vida; viajar por arquivos, sites e e-mails, até alcançar status de texto maduro; e já tem nome: “Diário da Caverna”.
As idéias dele estão soltas, será necessário reavivar a memória, capturar as lembranças que ora são coloridas de vida, feito confete, ora intensas e sombrias. Amá-lo é um exercício de autoconhecimento e aceitação do outro. Mas amar não é isso? Aventurar-se em conhecer um pouco mais a si mesmo e o outro a cada encontro ou desencontro?
Não é só; as idéias dele que estão soltas, aguardando cola, uma liga; as minhas também voam como pipas coloridas em céu de chumbo; pescando raios, buscando novas energias para transformar o que está solto em uma história humana.
À tarde já se recolheu; longe toca uma black music, na televisão, o mesmo vazio oferecido aos pobres, através dos canais de TV aberta. Lixo Puro! E compramos tudo que é oferecido por essa caixinha que, nos coloca num patamar de vaidade que nos torna inumanos.
Não que não goste de ver tv, ao contrário, ela é um aparelhinho maravilhoso, com uma capacidade inenarrável de multiplicar informações, conceitos, notícias, comportamentos, mas suas grades são vazias; programas de fofocas e comportamento à tarde, além de novelas antigas; à noite mais novelas e um noticiário catastrófico e morno, como se as mazelas faladas; já não importasse mais; além de filmes repetidos; só tv a cabo, sonho de consumo, para poder zapear por informações com conteúdo, fora isso, só a torturante e enfadonha programação das tvs abertas; experimentem ficar dois anos, trancados vendo essa programação. Ui!
Os papéis precisam ser ordenados mais uma vez, colocados cronologicamente, depois; desbastar o texto, torná-lo simples, limpo.
O calor incomoda e desconcentra, o clima está comprometido, louco; como o mundo globalizado, indiferente, onde as benesses de poucos, são pagas com os desastres naturais e a conta da tragédia, oferecida aos milhões de pobres; observadores inertes, espalhados por todo o mundo.
Ele dorme! E eu o amo! Não é perfeito, nem super-herói, tem manias que me incomodam, e me ama; como um menino; e esse amor me comove, me alimenta, me faz bem; ao mesmo tempo sua conseqüência me inibe, me magoa, me faz mal!
Às vezes, criamos expectativas em torno de coisas e pessoas e acabamos cobrando delas compromissos que fizemos sozinhos, sem percebermos.

Aos dez, me achava esquisita, aos quinze, era calada, aos vinte, seletiva, aos trinta, confusa; aos quarenta me descobri tímida.
Foi estranho reconhecer depois de tantos anos que essa sensação, que sempre me fez demandar o dobro de energia que as outras pessoas; chamava-se; timidez.
Tudo que vivi foi pautado por contradições; o querer e o não querer sempre si confundiram no decorrer do meu tempo; as escolhas para mim sempre foram difíceis; uma característica da infância. Aquilo que eu não reconhecia como vergonha, acanhamento, me fez ser dúbia nas escolhas. Por isso, desde cedo entendi que tinha de esforçar para interagir com o mundo, e que ele exigia respostas claras e rápidas. A vida do tímido é um inferno astral contínuo, um pudor intenso na interação com o “outro”; não por desprezo, tédio, ou outro sentimento negativo, mas por pura falta de habilidade de interagir com as pessoas sem se desnudar completamente, já que a timidez, ou nos deixa vulneráveis no sentido de agradar para não ser diferente, ou distante, por não saber como lidar com o novo; que sempre chega revestido de um certo desespero, pela ausência de certezas; a segurança do que sabemos nos deixa confortável e isso nos faz cair em muitas armadilhas.
O tímido é contraditório, e acaba não sabendo como se colocar em situações que demandem decisões e escolhas; ele pensa muito; às vezes usa a auto-afirmação como caminho de superar a timidez; outras vezes se recolhe, causando efeito contrário; passando às vezes, por arrogante, autoritário ou indiferente.
Em mim, maior do que a timidez é a bipolaridade, é a oscilação interna, antiga companheira, que torna a minha vida numa eterna gangorra de dúvidas e certezas. Por outro lado, a vida cheia de grandes certezas traz o tédio da previsibilidade constante. E assim sou eu; horas de certezas intensas, horas de dúvidas inabaláveis.
Sei que todos temos uma missão no mundo, às vezes oculta através de caminhos labirínticos; às vezes tão clara que; duvidamos da sua importância; mas é o seu cumprimento, ou não; que sinalizará os rumos que as nossas escolhas irão nos levar; e para mulheres como eu, escolha; é uma palavra complexa.
Conheci-o quando buscava compreender a mim mesma, foi como um sopro de vida para um coração sem rumo, um ser apto a amar que estava no lugar mais improvável para encontrar esse sentimento, casei-me com ele buscando decifrá-lo. Ele dorme! E eu tento perdoar-nos, por não sermos “super”, por não acertarmos sempre, por sermos humanos!
Não somos iguais, temos pontos de vista diferentes, mas sentimos a vida de forma parecida e amamos com lealdade e respeito. E quem é esse homem?
O que o faz resistir orgulhosamente após trinta e nove anos de prisão?
De onde tira a energia para reafirmar-se a cada dia?
De onde vem essa força, que teima em mantê-lo vivo?
Ele dorme, e me orgulho de dividir a vida com esse homem simples, que a despeito de suas ações e as conseqüências que elas tiveram; reviu-se, repensou-se e escolheu uma nova forma de viver.
Ele dorme e eu sei que tenho um amigo, que eu tenho um amor.


Tchau! Amanhã tem mais.

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