sábado, 22 de março de 2008

FORAGIDOS

(Marina da Ribeira)

22/03/08
Olá companheiros, Sábado de Aleluia, mais um dia de perspectivas boas, mais um dia de mentalização positiva, mais um dia em que eu particularmente tento não perder a minha fé. FELIZ PÁSCOA a todos!
Boa Leitura!


Capítulo VII

Hoje ele não amanheceu bem; o problema neurológico, faz com que ele passe muito mal às vezes; os músculos da face se repuxam, sente muita dor de cabeça, fica com falta de ar, e o pulmão produz muito muco, perde muito peso em muito pouco tempo... Fico preocupada, me sinto impotente; ele diz que são as marcas de guerra que carrega no corpo; apesar de estar se sentindo mal; comporta-se com dignidade; é um homem forte, tem uma mente forte. Olho para ele com um amor quase maternal, dá vontade de colocá-lo no colo, de protegê-lo, mesmo sabendo que ele é uma rocha.
Fiz uma sopa, dei-lhe os remédios, e agora ele descansa; meu parceiro, meu amigo, meu amor; quantas lutas...; é um gladiador, que teimosamente e orgulhosamente sobrevive, apesar e a despeito das intempéries da vida.
É estranho; esse sentimento de utilidade, de proteção, que sinto quando o vejo fragilizado, acaba servindo de alavanca, à pena que teimo sentir de mim mesma, no momento se esvai, e me percebo forte, então, me esqueço, e o vejo.
O céu está chumbo, vai chover, a temperatura caiu, na MTV Pimp my Ride..., que só assisto pois moro em uma casa alta que capta os sinais; pedaços de mim vão ficando gravados na tela do micro; acendo outro cigarro, uma ignomínia com o meu pulmão. Ele dorme, a casa está silenciosa, acabo de tomar um banho, recolho a toalha e acendo mais um cigarro, essa droga ainda vai me matar, mas enquanto isso não acontece...
Olho para a tela; queria poder colocar nela em um só segundo tudo que sinto; sou melhor pensando do que escrevendo, digitando sou lenta e as idéias são mais rápidas. Como traduzir em palavras essa avalanche de pensamentos que me tomam?
Escrever é uma tarefa muito difícil, ou melhor, desnudar-se é uma tarefa muito difícil. Sou melhor com a fala; gosto da sonoridade palavras, da sua maleabilidade; gosto de ouvir o som da minha voz ao pronunciá-las; puro narcisismo!!!! Vaidade!
Deve; existir técnicas para se construir uma história, só que eu não as conheço, vou colocando palavras na tela, conforme consigo arrumá-las, dentro de mim.
Seria tão fácil se existisse um programa que pudesse scanear tudo que pensamos e arquivá-los no micro, e como num passe de mágica, milhares de livros sairiam de dentro de cada um de nós. Trilhões de histórias!
Tem horas que as idéias travam, como se sentissem aviltadas em serem expostas; ou vem em forma de avalanche não me dando tempo de transcrevê-las. Preciso descobrir uma forma de domá-las, de ordená-las, para que eu possa ter domínio sobre elas, para que elas possam traduzir o que realmente sinto.
Mas como domar sentimentos, emoções, lembranças, como fazer com que elas obedeçam ao meu querer, como fazê-las saírem ordenadamente sem se rebelarem ao meu comando?
Frente fria, dezoito graus; faz frio! Ele acordou, foi ao banheiro e diz estar se sentindo melhor. “Mas o teu amor me cura, de uma loucura qualquer, encostar, no teu peito, e se isso for algum defeito, por mim, tudo bem”. Ave Lulu!
A noite está cada vez mais fria, no telejornal, todas as mazelas mundiais, parece que há um acordo de cavalheiros entre as emissoras; só desgraça vende; então, tome-lhe más noticias; aviões que caem, políticos que roubam e também esquecem de usar preservativos; rios contaminados, aquecimento global, desvios de verbas públicas e toda sorte de baixarias possíveis que alimentam a curiosidade mórbida de uma sociedade entorpecida. Parece que apesar da pulsação constante do tempo a vida de muitos se tornou tão monótona que, acompanhar a alheia, se tornou um divertimento elementar. É uma epidemia de curiosidade; às vezes perversa; uma torcida agourenta, a clamar por deslizes, crimes e catástrofes. Quando não é desgraça, é alguém que foi flagrado beijando a mulher de outro, ou que estava sem calcinha, ou que levou travestis para o motel; um show diário, de voyerismo barato e maus presságios.
É a era do BBB; todo mundo é visto, observado e julgado! É a era da comunicação imediata, da curiosidade urgente, do esquecimento coletivo de si mesmos.
Penso nos meus filhos, e no que os espera, vivendo num mundo autofágico, que se devora e se regurgita, reinventando-se cada vez pior. Preciso começar a orar pelos meus netos; que ainda não nasceram; para que possam passar incólumes pelas, catástrofes do mundo, para que não se percam no desamor, no ódio e na ira, que permeia o mundo. Preciso aprender a perdoar; fazer com que minha decepção não aniquile o que sobrou de bom em nós, que não sufoque nossos sonhos!!
Sou alguém que acumulou uma quantidade grande de maus pensamentos; estimulada, pela insegurança e a timidez; era mais fácil desejar do que fazer; por isso talvez faça parte da minha personalidade libriana, ficar entre o sobe e desce da gangorra, indecisa, sem saber, qual o melhor caminho.
As decisões sempre foi o meu calvário; aprendi a me armar de todas as variáveis possíveis para que tudo saísse com o mínimo de erro; o que é impossível; o futuro é imprevisível, então as decisões são sofridas, chorosas, cheias de incertezas.
Aprendi a reagir aos “nãos” da vida de uma forma errada; sou orgulhosa e as forças cósmicas estão me impingindo uma lição de humildade. Aprendi a não depender, a não demonstrar fraqueza, mesmo quando esfacelada, ‘decadance avec elegance’, isso causa um grande desequilíbrio, a vida fica mais séria, mais densa, mais estressante. Tudo o que falei sobre os meus sentimentos estão sendo colocados à prova; o amor que era só uma palavra, agora é exercício efetivo, ele está sendo chamado a atestar tudo o que foi dito, e nem sempre é fácil vivenciar-se o que se prega. Estou no âmago do meu inferno astral, onde tudo é colocado à prova. Sinto-me em uma centrífuga sem saber como pará-la, o amor é real, mas a mágoa turva as avaliações. Preciso continuar escrevendo, colhendo lembranças, exorcizando as tristezas que há em mim, para poder, renascer mais forte.


Namastê!

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