sexta-feira, 21 de março de 2008

FORAGIDOS







(Av. Mém de Sá - Porto dos Tainheiros)











21/03/08
Bom dia!
Nem sei se é, recebi esse e-mail e tenho que refletir:
“Li e não gostei do seu desabafo a respeito de sua vida particular e da maneira grosseira como vc se refere. Pensei que as dificuldades fossem lhe levar a uma reflexão menos agressiva. Quando se estar por baixo ai mesmo é o sentimento chamado humildade se impõe.
A arrogância demonstrada no seu texto evita que alguêm se incline a juda-lá.”
Peço desculpas a todos se pareço arrogante, talvez o seja sem perceber.
Não sou escritora e não sei se o intuito seja esse; escrever tem sido um desabafo, uma conversa com todos e com ninguém ao mesmo tempo; talvez comigo mesma.
Escrever tem sido uma forma de manter a fé em dias melhores!
Mais uma vez desculpem-me!

Capítulo VI

Já era tarde e a noite estava quente; na rua alguns bêbados, casais de namorados, pescadores de linha sentados na amurada; meu pai pescava assim, linha de nylon com anzóis e chumbo na ponta; e lá vinha uma profusão de baiacus que inchavam como balões de borracha. Estava a caminho de casa, passando em frente ao REX; o único edifício de sete andares, que existia naquele pedaço, o resto era casas e sobrados; quando um corcel azul parou do meu lado, a principio não liguei deixei ele me seguir devagarzinho; o cara era lindo, encostou o carro e desceu e me esperou passar?
– Está tarde para uma menina andar na rua!
- Estava na casa do meu tio; tô indo para casa!
Ficamos conversando sentados na amurada; chamava-se Paulo, quinze anos mais velho, terminara engenharia, tinha olhos negros, cabelos cheio de cachos; um anjo castanho; morava em Monte Serrat, um bairro próximo, era legal; tomamos sorvete na amurada, vendo o vai e vem tranqüilo do mar; na carona de volta para casa, aos quatroze anos deixei de ser virgem.
Não foi traumático, simplesmente aconteceu. Essa foi uma época cruelmente divertida; olhando de onde estou agora. Como a minha mãe era uma pessoa muito rígida fiquei paranóica com a possibilidade dela, descobrir o que tinha acontecido, porque eu mesmo não sabia; tinha deitado com o cara, mas era leiga no assunto; ela dizia que poderia descobrir se uma moça não era mais virgem pela forma de andar; era um inferno; devorei tudo que pude sobre sexo na biblioteca do meu tio e ainda tinha e driblá-lo para acessar esse tipo de leitura. Eu vivia me policiando, andava com as pernas bem juntinhas, para ela não perceber nada errado, mas era tudo “caô”, ela nunca percebeu nada, depois de um certo tempo relaxei e o medo passou. No princípio pensei que seria algo complicado, mas não foi, e não encarei como sujo ou pecaminoso, às vezes me espanto como lidei com tranqüilidade com a perda acidental da virgindade.
Paulo era; bonito, inteligente, divertido, namoramos um pouco e depois ficamos amigos, mas devia ser um porre namorar uma garota tão nova, e que não tinha liberdade, por isso virou namorico; só de vez em quando, depois acabou.
Nessa época minha mãe, queria me casar com o filho de um antigo namorado, que tinha se tornado um grande fazendeiro; o rapaz cursava medicina, era bem mais velho e tinha outros interesses. Conheceram-se quando jovem, minha mãe achava que a história que não deu certo com ela poderia dar comigo; ele também gostou da idéia, mas o filho; penso; era indiferente, não morria de amores por mim, devia ser legal namorar uma moça novinha para dar uns beijinhos, mas éramos distantes tínhamos sintonias diferentes, ele já ia se formar em medicina, eu acabado do entrar para o científico.
Foi um namoro que durou quase um ano; ele vinha me ver, trazia um livro gigante sobre medicina, e ficávamos na varanda ou dentro do carro estacionado na porta; eu fazendo perguntas, que ele anteriormente marcara; e ele respondendo; de vez em quando um beijo; era um porre, mas mesmo assim, minha mãe “fazia gosto”.
Ficou fazendo; dei um pé no cara e fui namorar o Ibson, para decepção mortal de mamãe; que nunca me perdoou, por ter deixado aquele partidão.
Moreno, de descendência peruana, Ibson era muito magro, alto, cabelos curtos, muito lisos; tinha vinte três anos, morava com os pais, não trabalhava; parou de estudar, era um maconheiro de carteirinha e minha mãe o odiava. Apesar de ter trancado a faculdade de História há dois anos; ele era um cara culto, vivia em um mundo próprio, fumava maconha o dia todo, lia muito, o pai era comerciante, possuía loja de tecidos; para minha mãe, “um vagabundo profissional”.
Meu lindo peruano, sabia que eu não era mais virgem, mas nunca forçou a barra, levamos mais de um ano para dormirmos juntos, namoramos dois anos; apesar da minha mãe, ela sabotava sempre que podia, mas ele não ligava, nem eu.
Dois anos e ele continuou o mesmo, sem saber para onde ir; parecia que ia ficar a vida toda, lendo, ouvindo música e fumando maconha. Foi um amigo incondicional durante a doença do meu pai, o carinho que vinha dele mantinha minha sanidade, foi companheiro, solidário, no dia do enterro me pediu em casamento, me senti acolhida, mas nossos caminhos já não iam para a mesma direção, eu não queria ficar mais em Salvador, e antes do meu pai morrer, meus tios já haviam me convidado a estudar no Rio. Quando lhe disse que realmente ia embora, foi difícil, ele chorou, ficou magoado, chutou algumas cadeiras, dizia que não sabia como eu podia acaba com um namoro de dois anos assim com um tchau? Mas foi assim; tchau e nunca mais o vi.
Como pude me desligar de alguém assim tão rápido quando, por tanto tempo ele foi tão importante? Como pude descartar com rapidez aquilo de achava me fazer tão bem?
Não era amor; companheirismo, amizade, carinho e talvez no fundo um pouco de birra; minha mãe merecia; mas não era amor; mesmo assim me senti muito mal; foram dois anos de convivência alegre. Ainda nos escrevemos por algum tempo até que as cartas acabaram e acabou!
Vida nova, amor novo!

Namastê!

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