03/04/08
Que o dia seja tranquilo, produtivo e harmonioso, que faça brotar em nós energias transformadoras!
Boa Leitura!
Capítulo XVIII
Mulheres que esperam!
Quem somos nós? Somos seres invisíveis, destituídos de certezas e buscando equilíbrio a cada parte da etapa cumprida, na tentativa de não submergirmos no caos que é viver sem futuro
Como caminhar nesse terreno pantanoso?
Como manter a auto-estima e a sanidade, como retornar a vida livre resguardando o mínimo de respeito, quando estamos acuados na nossa invisibilidade?
São respostas que buscamos todo dia, para nos mantermos vivos, para chegarmos ao porto seguro que é a reorganização da família pós-martírio.
Não é uma escolha fácil caminhar ao lado dos que foram punidos, não é uma tarefa lúdica ser esposa ou parente de um homem preso ou foragido.
Caminhar por escolha própria, por veredas que não são suas e aceitar as futuras intempéries do tempo, resguardando o amor; é uma tarefa complexa; amar um cidadão preso ou foragido é um exercício de doação, é ultrapassar a si próprio e eleger o outro como prioridade; é vivenciar a incondicionalidade!
Estar ao lado de alguém apartado do convívio social é abrir mão de sonhos possíveis e se permitir aprender com as escolhas que fizemos; mesmo estranha aos olhos alheios; e reescrever a história da nossa vida.
Desejamos que nosso ‘príncipe’ venha acondicionado dentro dos nossos sonhos perfeitos; para só abrir o pacote e ser feliz; mas a sabedoria misteriosa da vida nos leva para o improvável, o desconhecido, o vertiginoso; e faz com que a força que dizemos sentir seja testada.
Quem somos nós? Somos mulheres que vivem o dia de hoje como se fosse o último, como se devêssemos absorver tudo num só momento, por não saberem como será a continuação do que está sendo vivenciado; muitas, arrimos de família, sustentáculos de esperanças desmembradas, vivem uma vida dual assumindo diferentes papeis, para conseguirem a aceitação social; são alçadas subitamente á condição de mantenedoras, na maioria das vezes escondem o seu vínculo com a prisão com receio do preconceito; comumente perdem seus empregos quando seus vínculos são descobertos; é como se possuíssem características físicas que as imputasse o descrédito como pena acessória, à pena que já pagam compulsoriamente com os seus maridos; é como se possuísse uma lepra moral.
A ida à prisão é sempre precedida de ansiedade, e na saída, sempre um sentimento de pesar e impotência, nos acompanha; É uma missão difícil construir relações estáveis ou equilibradas em uma vida dividida, onde os papéis são trocados conforme o cenário da ópera; construir bases emocionais sólidas nessas condições, é um prêmio reservado a poucos.
Quando não moram nos núcleos de pobreza do estado, vivem no penoso muito as negação; negam o quem são para serem aceitas; quando saem para visitar o preso, acondicionam as sacolas de ‘sucatas’ em bolsas de viagem para que os vizinhos não ficarem curiosos; muitas sentem vergonha da história que são participantes involuntárias. Outras vivem em morro e favelas, convivendo diariamente com a violência no batente da porta; acuadas; observando aos desdobramentos de uma guerra que não é sua; mas, ao mesmo tempo a comunidade é ‘o’ local ‘seguro’, em que podem ser elas mesmas, onde não precisam fingir ou negar quem são; terreno conhecido onde muitas possuem a mesma história de espera. Lá são pessoas comuns, são casadas com alguém, os filhos um tem pai, esse pai tem nome e seus vizinhos sabem para onde vão aos finais de semana. O caos da favela as torna livres! Muitas mulheres estudam, mas seus professores e colegas não as conhecem; delas; só vêem a face construída sobre a vergonha imposta; maquiagem usada para aceitação social. Aos vizinhos, são viúvas ou separadas; quando dizem que são casadas; os maridos trabalham em outro estado, estão hospitalizados ou morreram. Os filhos aprendem desde cedo que o pai está no hospital e quando já entendem o peso da masmorra, são orientados na maioria das vezes a também se auto-negarem; dizem aos professores, vizinhos e colegas que o pai está viajando ou está separado da mãe e sentem com isso desde pequenos, que não fazem parte da história social; que estão de fora.
Crescer profissionalmente em meio a essa situação, requer uma grande força de vontade e o abate de diversos leões diários, para continuar percebendo-se possível, a despeito do que pensam de nós, pois no imaginário coletivo, a opção pelo o que difere da ‘normalidade’ é sempre uma opção de caráter; mas é falacioso pensar assim; existem vários porquês, e o amor é um deles.
A vida das que acompanham seus maridos pelo mundo afora, não tem amigos, fala pouco, locomove-se pouco; no mínimo aquelas que querem que seus companheiros vivam e possam envelhecer juntos
Percebo que a vida me deu possibilidade de escolha; e ofereceu-me, ferramentas poderosas; que me permitiram, chegar até aqui, semi-inteira após 24 anos buscando a liberdade. Sou um ser feliz, deitei com os homens que quis, casei com o que amei, sou amada, nunca abortei; não por formação religiosa, mas por que tive sorte, não precisei ser confrontada com essa decisão; o destino foi generoso e me deu fardos possíveis de suportar.
Só falta a liberdade!
Namastê!
Mulheres que esperam!
Quem somos nós? Somos seres invisíveis, destituídos de certezas e buscando equilíbrio a cada parte da etapa cumprida, na tentativa de não submergirmos no caos que é viver sem futuro
Como caminhar nesse terreno pantanoso?
Como manter a auto-estima e a sanidade, como retornar a vida livre resguardando o mínimo de respeito, quando estamos acuados na nossa invisibilidade?
São respostas que buscamos todo dia, para nos mantermos vivos, para chegarmos ao porto seguro que é a reorganização da família pós-martírio.
Não é uma escolha fácil caminhar ao lado dos que foram punidos, não é uma tarefa lúdica ser esposa ou parente de um homem preso ou foragido.
Caminhar por escolha própria, por veredas que não são suas e aceitar as futuras intempéries do tempo, resguardando o amor; é uma tarefa complexa; amar um cidadão preso ou foragido é um exercício de doação, é ultrapassar a si próprio e eleger o outro como prioridade; é vivenciar a incondicionalidade!
Estar ao lado de alguém apartado do convívio social é abrir mão de sonhos possíveis e se permitir aprender com as escolhas que fizemos; mesmo estranha aos olhos alheios; e reescrever a história da nossa vida.
Desejamos que nosso ‘príncipe’ venha acondicionado dentro dos nossos sonhos perfeitos; para só abrir o pacote e ser feliz; mas a sabedoria misteriosa da vida nos leva para o improvável, o desconhecido, o vertiginoso; e faz com que a força que dizemos sentir seja testada.
Quem somos nós? Somos mulheres que vivem o dia de hoje como se fosse o último, como se devêssemos absorver tudo num só momento, por não saberem como será a continuação do que está sendo vivenciado; muitas, arrimos de família, sustentáculos de esperanças desmembradas, vivem uma vida dual assumindo diferentes papeis, para conseguirem a aceitação social; são alçadas subitamente á condição de mantenedoras, na maioria das vezes escondem o seu vínculo com a prisão com receio do preconceito; comumente perdem seus empregos quando seus vínculos são descobertos; é como se possuíssem características físicas que as imputasse o descrédito como pena acessória, à pena que já pagam compulsoriamente com os seus maridos; é como se possuísse uma lepra moral.
A ida à prisão é sempre precedida de ansiedade, e na saída, sempre um sentimento de pesar e impotência, nos acompanha; É uma missão difícil construir relações estáveis ou equilibradas em uma vida dividida, onde os papéis são trocados conforme o cenário da ópera; construir bases emocionais sólidas nessas condições, é um prêmio reservado a poucos.
Quando não moram nos núcleos de pobreza do estado, vivem no penoso muito as negação; negam o quem são para serem aceitas; quando saem para visitar o preso, acondicionam as sacolas de ‘sucatas’ em bolsas de viagem para que os vizinhos não ficarem curiosos; muitas sentem vergonha da história que são participantes involuntárias. Outras vivem em morro e favelas, convivendo diariamente com a violência no batente da porta; acuadas; observando aos desdobramentos de uma guerra que não é sua; mas, ao mesmo tempo a comunidade é ‘o’ local ‘seguro’, em que podem ser elas mesmas, onde não precisam fingir ou negar quem são; terreno conhecido onde muitas possuem a mesma história de espera. Lá são pessoas comuns, são casadas com alguém, os filhos um tem pai, esse pai tem nome e seus vizinhos sabem para onde vão aos finais de semana. O caos da favela as torna livres! Muitas mulheres estudam, mas seus professores e colegas não as conhecem; delas; só vêem a face construída sobre a vergonha imposta; maquiagem usada para aceitação social. Aos vizinhos, são viúvas ou separadas; quando dizem que são casadas; os maridos trabalham em outro estado, estão hospitalizados ou morreram. Os filhos aprendem desde cedo que o pai está no hospital e quando já entendem o peso da masmorra, são orientados na maioria das vezes a também se auto-negarem; dizem aos professores, vizinhos e colegas que o pai está viajando ou está separado da mãe e sentem com isso desde pequenos, que não fazem parte da história social; que estão de fora.
Crescer profissionalmente em meio a essa situação, requer uma grande força de vontade e o abate de diversos leões diários, para continuar percebendo-se possível, a despeito do que pensam de nós, pois no imaginário coletivo, a opção pelo o que difere da ‘normalidade’ é sempre uma opção de caráter; mas é falacioso pensar assim; existem vários porquês, e o amor é um deles.
A vida das que acompanham seus maridos pelo mundo afora, não tem amigos, fala pouco, locomove-se pouco; no mínimo aquelas que querem que seus companheiros vivam e possam envelhecer juntos
Percebo que a vida me deu possibilidade de escolha; e ofereceu-me, ferramentas poderosas; que me permitiram, chegar até aqui, semi-inteira após 24 anos buscando a liberdade. Sou um ser feliz, deitei com os homens que quis, casei com o que amei, sou amada, nunca abortei; não por formação religiosa, mas por que tive sorte, não precisei ser confrontada com essa decisão; o destino foi generoso e me deu fardos possíveis de suportar.
Só falta a liberdade!
Namastê!
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