segunda-feira, 14 de abril de 2008

FORAGIDOS

(Foto FFFFound - Salt and Pepper) 14/04/08

Oi!
Muita Luz para todos nós!



Não temos perspectivas a, curto prazo, então, só nos resta esperar, e nos fortalecer na esperança de que algo ainda vai acontecer, e nos tirar dessa espiral de coisas negativas. E eu fico a me perguntar até quando?
Sei que é difícil escrever o que sentimos, para mim é algo extremamente complicado, pois as emoções ou estão em estado de ebulição permanente ou de uma apática conformidade.
Fomos ao advogado estudar formas, de transforma essa “liberdade”, em liberdade legal. Enquanto isso; esperamos, como temos esperado, durante vinte e quatro anos, que possamos gozar dessa vida sem as amarras que nos prende.
Penso como tudo é tão relativo, um prefeito de Minas foi preso com um milhão em espécie proveniente da corrupção ativa; está solto junto com mais uma dezena de corruptos; enquanto tentamos conseguir viver de forma digna, depois dele já ter cumprido 39 (trinta e nove) anos de prisão, e ainda aos 65 anos ainda caminha tentando provar que é uma pessoa útil e digna de uma chance.
Chance para pobre? É ruim hem! O legal é roubar bastante, dar demonstração de poder através dos bens mostrados nas televisões, da vida abastada que cada um tem; isso corresponde a força que possuem, isso implica em poder e poder implica em votos e por aí vai...
Aqui é só uma história familiar, o que ultimamente não tem muito valor, mas mesmo assim ainda continuamos tentando, vamos ver no que dá; quem sabe o mesmo destino que me levou até ele naquela Ilha possa agora nos dar um crédito, por tantos anos de espera.


Logo os benefícios foram tendo resultado e os internos começaram ganhar a liberdade; foi uma boa leva deles para rua o que animou os mais arredios a se aproximarem da jurídica.
Na cadeia a palavra motivadora é LIBERDADE, tudo mais para o preso é um paliativo; só funciona o que trabalha nessa direção e tudo que esteja ligado à possibilidade do retorno ao convívio da rua. Quanto mais em uma unidade que estava se reformulando, a possibilidade de liberdade distencionava um pouco o ambiente; presídio sempre é um lugar imprevisível.
O nosso trabalho continuou durante o segundo semestre, o que nos deu possibilidade de nos aproximarmos mais dos internos e ganhar a sua confiança e com isso, confirmar os abusos e maus tratos que começamos a relatar; primeiro a administração local e depois a direção geral; a nossa convivência que no princípio era tranqüila com os guardas, ficou mais tensa.
Passamos a almoçar na cadeia, a comida dos presos, faziam um recortado; refaziam o que já estava feito para dar sabor a comida sem gosto.
Valéria cada dia mais se aproximava do seu admirador e os sentimentos pareciam sério, e começamos a conversar sobre o que estava acontecendo com ela. Não escondeu, estava realmente envolvida era sério, ia se afastar do DESIPE e voltar como visita dele; estava disposta a tentar viver aquela história.
Nessa época já nos queriam; tanto os guardas quanto a PM; nos ver pelas costas, a nossa intermediação do preso com diretamente com a administração não era apreciada pelos funcionários, se alguém apanhava e nós ficávamos sabendo a direção também ficava e alguém tinha que se explicar e isso foi minando as nossas relações, As freiras eram incansáveis, sempre cuidando daqueles homens, muitos sem famílias, doentes, fora à convivência com as injustiças, era bravas, trabalhavam bastante em uma unidade tão carente de tudo.
O Padre Bruno não morava na Vila, mas ia todo mês e passava uma semana resolvendo os problemas ligados a Pastoral, que funcionava na Catedral perto da Lapa e oferecia assistência jurídica e social aos presos e familiares e atendiam muitos internos e voltava com respostas jurídicas e encaminhamentos na área social. Eram distribuídos mantimentos para famílias mais pobres; roupas também, às vezes davam a passagem para a família poder visitar seu preso e faziam encaminhamento para certidão de nascimento, etc.
Tenho uma boa lembrança do trabalho da Pastoral; eram advogadas guerreiras e como nós, gostavam do que faziam; só com uma leve diferença; o nosso estágio era voluntário.
A Igreja Católica, apesar do Cardeal Dom Eugênio; que era capaz de comer aquela comida horrível do sistema e abençoá-la em dias de festa; fazia o seu trabalho movida pela força do Padre Bruno, que conseguia romper a indiferença do Cardeal, e inibir muita violência ou mesmo pressionar a apuração de outras tantas.
Os jovens pobres, pretos, presos, nunca tiveram o mesmo apoio, dos jovens presos políticos. A Igreja apesar de tudo fazia sua seleção!

Namastê!

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