terça-feira, 8 de abril de 2008

FORAGIDOS


Olá!
Mais uma manhã no planeta terra, mais um dia de esperança no que ainda há de bom, na percepção do homem da sua perenidade, da sua fragilidade, da sua humanidade.
Que o dia seja dourado como as folhas de outono e a vida, sempre um tapete colorido e macio, nem que seja nos nossos sonhos!
Boa Leitura!

Queria estar andando por entre folhas douradas do outono, estabelecendo contato com o belo, com o simples, o natural.
Reconheço que existem milhões de pessoas com problemas centenas de vezes maiores dos que os nossos, mas os nossos estão mais perto e os vemos com potentes lentes de aumento.
A vida tem uma forma às vezes irônica de nos ensinar a caminhar; eu que busquei a liberdade cedo, que troquei a segurança e o dinheiro por me sentir cerceada, tive que aprender que a liberdade não é só um estado físico; ela vai além; está no direito a ser pessoa, de ser cidadãos, de confraternizar com os que amamos e se sentir feliz em ouvir a chave da porta de casa girando quando o último dos filhos chega em casa, de se sentir amada. Estou aprendendo nesse tempo que os conceitos de liberdade são amplos e amar é um deles.
Me sinto feliz por amar, por vivenciar essa troca de sentimentos simples e definitivos, por ter encontrado um parceiro, um amigo, um companheiro leal, um pai amoroso, um ser humano; como eu; em construção, se permitindo a aprender com os próprios erros, forte, esperançoso e com uma inenarrável fé na vida.
O amor foi o presente mais acolhedor que a vida me deu, e com ele uma porção de tarefas e testes, para que aprendesse que amor não é só uma palavra; é um conjunto de ações, sentimentos, emoções, todas positivas, prenhes de prazer, de satisfação e de eternidade.
Construir uma vida com amor entre a cadeia e a fuga é um milagre, não entendo bem como ainda estamos aqui resistindo, vendo as ‘crianças’ crescerem, pois sempre serão nossas crianças, ‘pedaços adorados de nós’; juntos, caminhando para as bodas de prata com a mesma certeza do primeiro dia.


O conheci em 1984, no dia do festival, em uma reunião no ‘Anexo”, e enquanto aquele homem falava com o Padre sobre os problemas que estavam acontecendo na unidade, dele emanava uma força vital, quase palpável, um orgulho saudável de ser gente e querer tratado como tal. Era simples, falava olhando nos olhos, tinha olhos pequenos, mas um olhar gigante; que nos penetrava e nos avaliava; não sorria, se portava de forma fria, distante, mas atento ao que estávamos falando e mais atento ainda à como estávamos ouvindo o ele falava.
A reunião pelo que pude perceber estava sendo no seu cubículo (cela), era um lugar espartanamente limpo; sem nada nas paredes, catre arrumado, livros do lado, um par de óculos; calçava sandálias, era simples.
Era como se eu tivesse reencontrado alguém que eu conhecia há milênios; um parceiro antigo, um sentimento de conforto, de não estar mais só, um calor acolhedor; amigo.
No mesmo instante o meu coração sentiu ‘queira envelhecer com ele’; foi uma emoção rápida e me deixou confusa, era a primeira vez que eu via aquele homem e em uma situação das mais complicadas, mas sentia que conhecia aquele cara de algum lugar, era um reconhecimento, um dejavú.
Falava comigo me olhando nos olhos e eu já tinha falado com aqueles olhos; o corpo era diferente, a embalagem era outra, era estranha a minha memória emocional, mas os olhos, o cheiro, a forma de falar.
Caraça! Encontrei a minha cara metade no lugar mais filho da puta; o caldeirão do diabo.
Depois daquela conversa voltei para a casa da direção confusa; parecia um chamado, vir a um festival naquele lugar distante e perceber essa emoção em alguém tão cheio de problemas.
Sabia que queria trabalhar ali, o destino tinha marcado encontro comigo naquela ilha para me apresentar ao meu parceiro de viagem e estava sentado sob as montanhas observando se eu teria “culhão” de tomá-lo pela mão e seguir o nosso caminho. E o que fazer quando você reencontra a metade da tua alma andando por terrenos tão minados?
Não falei nada para Valéria, a princípio era só uma emoção e às vezes o nosso ‘dial’ não está bem sintonizado, mas uma coisa estava clara, ali era o lugar para trabalhar.
Voltando para o continente, já na barca, enquanto o Abraão se distanciava, havia em mim a certeza que minha vida ia mudar de alguma forma.

Namastê!

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